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Dez anos de Pushy


Vieste para casa como um brinde de janelas: a sra da vidraçaria (ou lá como se chama) impingiu-te ainda eras feto.
Foste prenda atrasada dos meus 15 anos, mas não eras para mim, eras para todos.
Vinhas numa caixa de cartão, e quando a abrimos pensámos que eras castanha escura, tal a quantidade de pulgas que trazias em cima. Estiveste vá não vá para ser devolvida à procedência.
Banho (ficaste logo ressabiada), e garagem contigo. Lembro-me que nesse dia andámos no Lidl e afins a ver coisinhas para gato.
Levaste com uma lata quase inteira de spray contra parasitas em cima. Muito depois lemos que era só a partir dos seis meses e a uma distância mínima de 15 cm que devias levar com ele.
Foste conhecer os teus avós num cestinho branco, e tornaste-te numa terceira neta (isto depois de descobrirmos que eras uma Pushy).
Depressa ficaste a menina da casa: ao princípio ias-nos de carro buscar à escola, e o teu shampoo era de mentol.
Tinhas (e tens) um feitio difícil: amuas, és teimosa, quando te chateiam começas logo a bufar e ficas assanhada com frequência. Sais à dona, portanto.
Começaste a explorar a casa, e posteriormente o quintal e os quintais da vizinhança.
Tiveste mais coleiras que sei lá o quê, mas nunca duraram muito.
Uma vez ficaste com a cauda dentro da sopa, e ficaste muito ofendida, outra vez apanhámos-te a roubar não sei quê já na travessa na mesa.
Adoravas andar de carro, punhas-te no tablier em cima do volante. Muitas vezes foste a Lisboa, e quando ias a centros comerciais causavas sempre sensação. Uma vez, no Seixal, fui dar com uma senhora a olhar para ti e a apostar com outra que eras um peluche.
Adoravas o avô e o avô adorava-te a ti. Andavas sempre ao ombro dele, e ias dormir a sesta em cima dele.
Ainda tenho cicatrizes das vezes que te assanhaste comigo e me arrancaste pele. Uma vez apertei-te o pescoço e ficaste de língua de fora e olhos semicerrados. Quando te toquei abocanhaste-me logo.
Quando a Kitty veio achaste logo que tinhas concorrência. Felizmente deram-se bem, tu do alto da tua superioridade felina, e ela desejosa de te agradar. Até juntas dormiam. Belos tempos.
A primeira paixão levou-te a estar uma semana e tal fora. Fugiste-nos. O que nós te procurámos. Onde ouvíamos dizer que havia um gato morto, lá íamos. Foste apanhada por um vizinho à porta de casa. Isto depois de eu ter posto meia turma de Métodos Quantitativos a chorar com pena tua.
Pois é, voltaste, mas trazias brinde.
A 5 de Setembro nasceram 4 gatinhos lindos. Fui eu a primeira a encontrá-los e lembro-me da excitação como se tivesse sido hoje. Perdeste a paciência depressa com as 4 crias, mas quando as doámos fartaste-te de as procurar. Não foste uma mãe desnaturada. Eram elas a Doraemi, o Crockshanks, a Hedwing, e a Mrs Norris. Esta última ficou connosco e é conhecida como a gatinha boneca.
Agora com a companhia da tua filha, tiveste muitos mais filhos. Carradas, tantos que já lhes perdi a conta. Tiveste a companhia do Artur, e agora da Minnie. A Minnie tem claramente o teu feitio.
O teu olhar só era de adoração para uma pessoa: o dono. Era ele que tratava de ti todos os dias. Infelizmente isso deixou de ser possível e tu ressentiste-te. Sabias que algo estava mal, como quando soubeste que a tua dona mais nova tinha sido operada. Hoje ainda vais disparada para o quarto dele, e ficas lá horas se eu te deixar. Se bem que as tuas idas a casa deixaram de ser frequentes, porque as habitantes caninas não vão muito à bola contigo. A mais velha por ciúmes, a mais nova porque é racista. Mas, não obstante, gostam de te ir visitar à garagem.
És, e sempre serás, a minha miau-miau. Foste a primeira, e foi contigo que eu aprendi a adorar animais. A ter paciência e a atender às tuas necessidades. Lembras-te quando eu te pintei as unhas? Às vezes era uma dona desnaturada. Também te gostava de vestir com as roupas do Nenuco. E tu passavas-te.
Por isso, Pushy, obrigada. Por nunca teres ido procurar outra família, por nunca teres ficado debaixo de um carro, por nunca me teres abandonado, e seres minha amiga em todas as horas, mesmo quando não estavas muito para aí virada.

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