Um dia ela fartou-se de olhar à janela, os cortinados de tule a cheirar ligeiramente a mofo a cobrirem os vidros que de tão finos deixavam passar a humidade. Pensou que fosse o que fosse que ela queria, não passaria por estar ali a olhar para a rua, onde nada nem ninguém passava, decerto com medo do homem mau que leva as meninas boas. Porque das más ninguém queria saber.
Foi buscar a mochila de pano e enfiou lá a vida: o seu pelucho rafeiro preferido, comida de plástico enlatada, um cobertor para ele e uma lanterna para ela, que isto de ter medo do escuro é lixado.
A vida enfiada dentro da mochila, a porta aberta, o descer rapidamente as escadas e a corrida rápida para o bosque. Estava cá fora com a vida, e agora? Era agarrar nela e fazer alguma coisa. Para onde ir? O que fazer? Com quem falar, quem conhecer? E as saudades do passado, haveria?
Demasiadas perguntas para um ser de 9 anos.
Ouviu chamarem por ela; estava na hora de voltar.
Pegou na vida e condenou-a ao sulplício eterno.