"Se pudesse, comia-a toda a noite".
Acreditem, mesmo no contexto é um bocado estranha.
Falta uma semana para acabar aquilo. Aquele corredor do metro que já não posso ver, as escadas, a porta automática que tarda em abrir, eis-nos dentro do Antro. Onde uns são humilhados e outros favorecidos admnistrativamente. Mea culpa, tinha direitos de créditos antigos para cobrar e ainda não entrou em mora. E eis que depois, um mês e tal de férias. Férias as in, não ter que ir lá, ai tão bom, mas 4 semanas já estamos a suspirar pelas cadeiras duras e partidas dos anfiteatros, pelas sras mal encaradas dos bares e até que sejamos mal tratados na secretaria. Vale tudo para prolongar o sofrimento. Porque em casa são as mesmas paredes para que se olha, os livros já não apelam, e nem as novas tecnologias nos alegram, ainda que momentaneamente a existência. Vemos séries atrás de séries, filmes; enfim, cedemos ao capricho madrugador das leituras existencialistas, ainda que seja apenas para tentar combater as insónias que 42ºdiurnos à sombra provocam no clima nocturno. Pensamos quem me dera tar na praia, mas chegados lá só nos queremos ir embora, a seca dos outros, eles é que são infernais. Pensamos, quem me dera estar não sei onde, ver museus, ouvir outras línguas, etc, e depois só queremos regressar ao avião, bitte bitte, que saudades do urso de peluche gigante.
A minha falta de interesse na existência (humana, canina e felina), poderá ter a ver com a falta de hemoglobina no meu sangue? O meu passivo terá um fundamento médico-legal? É certo, só eu sei como me sinto, as tonturas, o ser de repente como uma folha de papel, as dores de cabeça que nem os olhos permitem ter abertos, mas no fundo no fundo, I don't give a damn. Tudo o que digo é feito ao contrário. Se calhar vou passar a falar ao contrário,tipo sim, deixa isso lá fora, assim é que é, lógico, não é? Hum, vejo surgir a sua vontade de me contradizer,não a contradiga você também, faça como o seu coração lhe diz.
Por falar em coração, segunda enterrou-se o Código Civil. Quem diria que havia de ir primeiro que eu? Tantos momentos bem passados...
Tempus lugendi, Código Civil. Tempus lugendi.
Podia começar com um grande preâmbulo, e no princípio foi o meu pai que disse que me deixava ir ver Red Hot Chili Peppers ao atlântico e de véspera não deixou, e depois houve ainda Incubus; sim, podia recordar-me das noites de concerto passadas afinal na minha cama a olhar para poster mal colados na parede (damn you super pop), e a jurar que um dia havia de ver tudo o que quisesse ver.
Também poderia mencionar a primeira vez que ouvi Iron Maiden, o grupo por excelência do heavy, que só os meninos maus ouviam, srs cabeludos a tocar, não não não, meninas como tu não ouvem cá disso.
Mas primeiro ouviu-se Iron, passa-se para Metallica e afins e torna-se um aficcionado das guitarradas como deve ser.
Entretanto, a bem do grau académico, é-se-me concedida mais liberdade (intelectual e não só) e começa-se a poder ir a concertos a sério. Primeiro sozinha e com grandes histórias inventadas para contornar o telefonema habitual e a eventual rouquidão no dia seguinte, depois com mais liberdade (quiçá o status de um evento como o RIR possa proporcionar; aí não vamos chatear a primogénita mesmo que ela oiça grupos com nomes que tenham a ver com cemitérios, desde que leve a maninha mais nova atrás).
Agora estou uma mal habituada de primeira apanha, mas sim sr, há lá felicidade que se compare a ver um concerto, mein goth, os metallica tão a tocar a nothing else matters neste momento e aqui, sabe-se lá quanta gente está neste preciso momento a ouvir esta música, porém eu tenho-os mesmo à frente; o Mathew Bellamy está mesmo à minha frente, ele tocou na minha caneta, ele falou comigo, mein goth, mein goth.
Certo, depois há aqueles arrependimentos brutais, estúpida do #!*#, devias ter ido e não foste, e agora quando é que eles voltam, mas felizmente são poucos (mas significantes, sniff).
Preâmbulo à parte, fomos a Iron Maiden. Valeu a pena? Oh yeah. Não há palavras. Mesmo. Estar lá é tudo. Foi das melhores coisas da minha existência, so far. Eles não tocam só. Eles são.
Na relva está-se bem. Imaginar-te uma vida a meu lado é exaustivo. Apesar das formigas. Tanto porque tu não percebes nada.E das outras pequenas criaturas que por aí possam existir. Dizes coisas cegas, tão cegas. É aflitivo pensar que as poderemos estar a esmagar. Coisas essas que retiram a vontade.E que, se fossemos budistas e acreditássemos, poderiam ter sido a nossa mãe numa vida anterior. Se calhar é um problema de perspectiva.Ou pai. Se calhar é um problema de exigência.E se deixarem nódoas na roupa? Ou até de paciência.E se picarem? Talvez devesses olhar melhor para ti, à luz dos conhecimentos básicos, da moral e dos bons costumes, e ver que afinal não és tu que estás certo, e que há coisas que são um perfeito disparate, e que o que temos não chega, e acho que não há solução.
Bem, não podemos pensar nisso. Ou então sou eu que estou errada, tão errada, e cega, tão cega. Estragamos assim o dia, que se quer passado deitado na relva. Quero o que não estou destinada a ter, o que nestes termos é impossível de alcançar.
A olhar para o céu com nuvens. Eu penso demais.E a ver os caules das tulipas. Eu preocupo-me demais.As tulipas propriamente ditas não. Mas eu sou assim, nada feito.Apenas os caules, as nuvens, o céu. Não se altera um quarto de século de um dia para o outro.Só. Ah pois. Carpe diem. Bingo.