Senhoras e senhores, bem vindos ao mercado de trabalho.
Eis 2 semanas passadas desde que ingressei na bela instituição que é a CGD, devido a um hacker fofinho e simpático que decidiu lixar o sistema e alegrar a existência de uns quantos juristas desempregados. Digamos que sou a mais novinha da minha sala, e a única que não participou activamente de uma conversa sobre "vampirinhos fofinhos" do Crepúsculo. Digamos que me divirto a desligar a tecla num lock e a ver o ar desesperado de gajas aos berros que o teclado não funciona, e depois sou mágica porque o faço teclar outra vez. Digamos que a parte mais fixe do meu dia é quando chego as 8 da manhã e estou sozinha, quando vou à casa de banho e quando estou sozinha na fila da cantina. Digamos que eles até já sabem quem é o ser que diz bora lá, há que desinfectar as patinhas, que fala com as hipotecas, que berra pela conversão, que diz bom dia ou boa tarde, pede desculpa e muito obrigado, que amua e de vez em quando está com trombas acentuadas. Digamos que esperam por mim, que me convidam para jantares, cafés, almoços e conversas, mas que dou por mim e a sentir saudades dela de manhã ao café a maldizer comboios que pegam fogo, saudades dele para ter conversas que não estupidificam o cérebro e para me deixar animada com o pessimismo habitual, saudades dela para teimar, saudades dele para me virar para o lado e o acordar ou partilhar um sudoku, saudades dela para fumar e maldizer machos. Saudades de outras criaturinhas e criaturinhos, tantas que dói, e quase que corro para aqueles wcs bonitos, com mármore, sensores de movimento (lol) e música clássica para chorar, porque nunca pensei sentir tanta falta deles, e tinha-me esquecido como são fúteis e más as pessoas. Eu não gosto de novelas, gosto de ser pontual, irrita-me que me apaguem as contas no excel quando as tou passar para o papel, não gosto de falar sobre meios contraceptivos todos os dias ao almoço, sobre bodas, não acho bem que num segundo estejam a dar graxa a uma pessoa e no segundo a seguir estejam feiamente a dizer mal dela, não gosto que me chamem a atenção por erros que cometa quando me ensinaram a fazer assim (odeio relatórios de avaliação, brr). Passaram duas semanas e já me dói quando estou lá. E procuro a solidão. E represento tãao bem. 11 horas por dia. Mas há coisas piores, e sempre me rio quando me aparecem análises de urina agrafadas a processos de hipoteca, ou quando me aparece um processo de um assistente da faculdade (coitadinho, está-se a divorciar) e sei que o sr aufere 4000€ por mês (besta), ou quando uma vivenda (moradia unifamiliar/fracção autónoma em regime de propriedade horizontal) está mal situada porque "há muitos traficantes a traficar nas imediações".
E pronto, se para a semana virem alguma notícia sobre um homicídio na CGD, fui eu que espetei a tesoura ou o tira-agrafos na minha colega do lado, que ganhou o prémio de ser que mais irrita aqui este ser (epah, não imaginam. Mas merece outro post).